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Segurança do Trabalho: Zero Acidentes

Paul O'Neill CEO of Alcoa

Por: Suellen Borelli

08 Junho 2020 às 22:11

Se você já teve alguma vivência com uma empresa de grande porte (principalmente as multinacionais), já deve ter se deparado com a meta ZERO ACIDENTES correto?

Mas, você sabe como ela surgiu?

Texto do livro: O poder do hábito

Num dia tumultuoso em outubro de 1987, um enxame de
proeminentes investidores e analistas da bolsa de valores de Wall
Street reuniu-se no salão de festas de um hotel chique em Manhattan. Estavam lá para conhecer o novo diretor executivo da Aluminum Company of America — ou Alcoa, como era conhecida —, uma corporação que, durante quase um século, vinha fabricando de tudo, desde a embalagem dos Hershey’s Kisses e o metal das latas de Coca-Cola até os rebites que sustentam os satélites.


O fundador da Alcoa inventara o processo de fundição de
alumínio um século antes, e desde então a empresa se tornara uma das maiores do planeta. Muitas das pessoas na plateia tinham investido milhões em ações da Alcoa e recebido um retorno constante. No ano anterior, porém, os investidores haviam começado a resmungar. Os dirigentes da Alcoa tinham dado um passo em falso atrás do outro, tentando expandir insensatamente com a criação de novas linhas de produtos, enquanto concorrentes roubavam seus clientes e lucros.


Assim, houve um senso de alívio palpável quando a diretoria da Alcoa anunciou que era hora de uma nova liderança. Esse alívio, no entanto, transformou-se em apreensão quando a escolha foi anunciada: o novo diretor executivo seria um ex-burocrata do governo chamado Paul O’Neill. Muita gente em Wall Street jamais tinha ouvido falar dele. Quando a Alcoa marcou essa recepção no salão de festas em Manhattan, todos os principais investidores pediram um convite.

Uns poucos minutos antes do meio-dia, O’Neill subiu ao palco. Ele tinha 51 anos, era um homem aprumado, vestindo um terno cinza de risca de giz e uma gravata vermelha. Seus cabelos eram brancos e sua postura ereta lembrava a de um militar. Ele subiu os degraus depressa e deu um sorriso caloroso. Parecia digno, sólido, confiante. Como um executivo-chefe.


Então ele abriu a boca. “Quero falar com vocês sobre segurança no trabalho”, ele disse. “Todo ano, vários funcionários da Alcoa sofrem ferimentos tão graves que perdem um dia de trabalho. Nosso histórico de
segurança é melhor do que a média da mão de obra americana, principalmente levando em conta que nossos empregados
trabalham com metais a 1.500 graus e máquinas capazes de arrancar o braço de um homem. Mas ainda não é suficiente. Pretendo fazer da Alcoa a empresa mais segura dos Estados Unidos. Minha meta é um índice "zero de acidentes.”

A plateia ficou confusa. Estas reuniões geralmente seguiam um roteiro previsível: um novo diretor executivo começava se apresentando, fazia uma falsa piada autodepreciativa — algo sobre como ele passara o curso inteiro da Havard Business School dormindo — e depois prometia alavancar os lucros e baixar os custos. Em seguida vinha uma severa crítica aos impostos, às normas comerciais e, às vezes, com um fervor que sugeria experiência em primeira mão no tribunal de divórcio, aos advogados. Por fim, o discurso terminava com uma enxurrada de palavras da moda — “sinergia”, “proativo” e “coopetição” — e neste momento todos podiam voltar para seus escritórios, novamente confiantes de que o capitalismo estava a salvo por mais um dia.

O’Neill não dissera nada sobre lucros. Não mencionou impostos. Não falou de “usar alinhamento para obter uma vantagem de mercado sinérgica infalível”. Até onde as pessoas na plateia sabiam, a julgar por aquele papo sobre segurança no trabalho, O’Neill talvez fosse a favor da pró-regulamentação. Era uma perspectiva apavorante.


“Agora, antes de prosseguir”, disse O’Neill, “quero apontar
as saídas de emergência deste recinto”. Ele indicou com um gesto a parte de trás do salão de festas. “Há duas portas nos fundos, e no caso improvável de um incêndio ou outra emergência vocês devem sair calmamente, descer as escadas até o saguão e deixar o prédio.”

Silêncio. O único som era o zumbido do trânsito pelas janelas.
Segurança? Saídas de incêndio? Aquilo era uma piada? Um certo investidor na plateia sabia que O’Neill estivera em Washington, D.C., durante os anos 1960. Esse cara deve ter tomado um monte de drogas, ele pensou.
Por fim, alguém levantou a mão e perguntou sobre inventários na divisão aeroespacial. Outro perguntou sobre os coeficientes de capital da empresa.


“Não tenho certeza de que vocês me ouviram”, disse O’Neill.
“Se vocês querem entender a situação da Alcoa, precisam olhar os
números de segurança dos nossos locais de trabalho.

Se diminuirmos nossos índices de acidentes, não será devido a um
esforço motivacional ou às baboseiras que às vezes vocês ouvem de outros diretores executivos. Será porque os indivíduos desta
empresa concordaram em se tornar parte de algo importante:
dedicaram-se a criar um hábito de excelência. A segurança será um indicador de que estamos fazendo um avanço em mudar nossos hábitos em todo o âmbito da instituição. É assim que deveríamos ser avaliados.”


Os investidores quase se atropelaram para sair do salão quando a apresentação terminou. Um deles correu até o saguão, achou um telefone público e ligou para seus vinte maiores clientes. “Eu disse: ‘A diretoria pôs um hippie maluco no comando, e ele vai afundar a empresa’”, esse investidor me contou. “Mandei eles venderem as ações imediatamente, antes que todos os outros no recinto começassem a ligar para seus clientes e dissessem para eles fazerem o mesmo. “Foi literalmente o pior conselho que eu dei em toda a minha carreira.”

Segurança do Trabalho: Zero Acidentes

Em menos de um ano após o discurso de O’Neill, os lucros da
Alcoa atingiriam uma alta recorde. Quando O’Neill se aposentou no ano 2000, o faturamento líquido anual da empresa era cinco vezes maior do que antes de ele chegar, e sua capitalização de mercado crescera em 27 bilhões de dólares. Alguém que investiu um milhão de dólares na Alcoa no dia em que O’Neill foi contratado teria ganhado outro milhão de dólares em dividendos enquanto ele liderava a empresa, e o valor das suas ações seria cinco vezes maior quando ele partisse.

Além disso, todo esse crescimento aconteceu enquanto a
Alcoa se tornava uma das empresas mais seguras do mundo. Antes da chegada de O’Neill, quase todas as usinas da Alcoa tinham no mínimo um acidente por semana. Uma vez que seu plano de segurança foi implementado, algumas unidades passaram anos sem que um único empregado perdesse um dia de trabalho devido a um acidente. O índice de acidentes no trabalho caiu para um vigésimo da média dos Estados Unidos.

Então como O’Neill transformou uma das maiores, mais
antiquadas e mais potencialmente perigosas empresas do país numa máquina de lucros e um benchmarking da segurança do trabalho?


Atacando um único hábito e então observando as mudanças se
espalharem por toda a organização.

“Eu sabia que precisava transformar a Alcoa”, O’Neill me disse. “Mas você não pode mandar as pessoas mudarem. Não é assim que o cérebro funciona. Por isso decidi que era melhor começar enfocando uma única coisa. Se eu pudesse começar desmanchando os hábitos relacionados a uma única coisa, isso se alastraria pela empresa toda.”

O’Neill acreditava que alguns hábitos têm o poder de iniciar uma reação em cadeia, mudando outros hábitos conforme eles avançam através de uma organização. Ou seja, alguns hábitos são mais importantes que outros na reformulação de empresas e vidas.
Estes são os “hábitos angulares” e eles podem influenciar o modo
como as pessoas trabalham, comem, se divertem, vivem, gastam e
se comunicam. Os hábitos angulares dão início a um processo que,
ao longo do tempo, transforma tudo.

Da primeira vez em que a Alcoa abordou O’Neill com a proposta de tornar-se diretor executivo, ele não sabia ao certo se queria o emprego. Já ganhara bastante dinheiro, e sua mulher gostava de Connecticut, onde eles moravam. Não sabiam nada sobre Pittsburgh, onde ficava a sede da Alcoa. Mas antes de recusar a oferta, O’Neill pediu um tempo para pensar. Para se ajudar a tomar a decisão, começou a trabalhar numa lista de quais seriam suas maiores prioridades se aceitasse o cargo.

Em 1977, após 16 anos em Washington, D.C., O’Neill decidiu
que era hora de partir. Estava trabalhando 15 horas por dia, sete
dias por semana, e sua mulher estava cansada de criar quatro filhos sozinha. O’Neill renunciou ao cargo e conseguiu um emprego na International Paper, a maior empresa de celulose e papel do mundo. Ele acabou se tornando o presidente.


Àquela altura, alguns de seus velhos amigos do governo
estavam na diretoria da Alcoa. Quando a empresa precisou de um
novo executivo-chefe, eles pensaram em O’Neill, e foi assim que ele acabou fazendo uma lista de suas prioridades caso decidisse aceitar o emprego.


Na época, a Alcoa estava passando por dificuldades. Os críticos diziam que os funcionários da empresa não eram ágeis o bastante e que a qualidade dos produtos era precária. Porém no topo de sua lista, O’Neill não escreveu “qualidade” nem “eficiência” como suas maiores prioridades. Numa empresa tão grande e antiga quanto a Alcoa, você não pode apertar um botão e
esperar que todo mundo trabalhe com mais empenho ou produza mais. O diretor-executivo anterior tentara impor melhorias por meio de ordens, e 15 mil empregados tinham entrado em greve. A situação ficou tão grave que eles traziam bonecos para os estacionamentos, vestiam-nos como os diretores e os queimavam simbolicamente. “A Alcoa não era uma família feliz”, me disse uma pessoa daquela época. “Era mais como a família Manson, mas com o adicional do metal fundido.”


O’Neill decidiu que sua maior prioridade, caso aceitasse o
emprego, teria que ser algo que todo mundo — tanto os sindicatos
quanto os executivos — pudesse concordar ser importante. Ele
precisava de um foco capaz de unir as pessoas, algo que lhe desse o poder de mudar o jeito como elas trabalhavam e se comunicavam. “Pensei no básico”, ele me disse. “Todos merecem sair do trabalho tão ilesos quanto chegaram, certo? Ninguém deveria ter medo de morrer sustentando a família. Foi nisso que eu decidi me focar: em mudar os hábitos de segurança de todo mundo.”

Segurança do Trabalho: Zero Acidentes
No topo de sua lista O’Neill escreveu “SEGURANÇA” e
traçou uma meta audaciosa: índice zero de acidentes. E não era zero acidentes em fábricas. Era zero acidentes e ponto final. Esse seria seu compromisso, custasse o que custasse.
O’Neill decidiu aceitar o emprego.

“Estou muito feliz de estar aqui”, O’Neill disse a uma sala cheia de
funcionários numa fundição no Tennessee, uns poucos meses após
ser contratado. Nem tudo tinha corrido bem. Wall Street estava em pânico. Os sindicatos estavam receosos. Alguns dos vicepresidentes da Alcoa estavam ofendidos por não terem sido cogitados para o cargo máximo. E O’Neill continuava falando sobre segurança no trabalho.


“Terei prazer em negociar com vocês sobre qualquer coisa”,
disse O’Neill. Ele estava fazendo um tour pelas usinas da Alcoa nos Estados Unidos, e depois visitaria as instalações da empresa em outros 31 países. “Mas há uma única coisa que nunca vou negociar com vocês, e essa coisa é a segurança. Não quero que vocês digam que algum dia não tomamos todas as providências para garantir que as pessoas não se machuquem. Se vocês quiserem discutir comigo a esse respeito, vão perder.”


O aspecto brilhante dessa abordagem era que ninguém, é claro,
queria discutir com O’Neill sobre segurança no trabalho. Os sindicatos vinham lutando por melhores normas de segurança havia anos. A diretoria também não queria discutir sobre isso, já que os ferimentos significavam perda de produtividade e baixa motivação.


O que a maioria das pessoas não percebia, no entanto, era que o plano de O’Neill de alcançar um índice zero de acidentes deu início ao realinhamento mais radical da história da Alcoa. O’Neill acreditava que o segredo para proteger os funcionários da Alcoa era entender por que os acidentes aconteciam em primeiro lugar. E para entender por que os acidentes aconteciam era preciso estudar como o processo de fabricação estava dando errado. Para entender como as coisas estavam dando errado, era preciso contratar pessoas que pudessem educar os funcionários sobre controle de qualidade e os processos de trabalho mais eficientes, para que fosse mais fácil fazer tudo do jeito certo, já que um trabalho correto também é um trabalho mais seguro.


Em outras palavras, para proteger os funcionários, a Alcoa
precisava se tornar a melhor e mais eficiente empresa de alumínio
da terra.


O plano de segurança de O’Neill, basicamente, era moldado no loop do hábito. Ele identificou uma deixa simples: um empregado ferido. Então instituiu uma rotina automática: toda vez que alguém se acidentasse, o presidente da unidade tinha que reportar o acidente para O’Neill em até 24 horas e apresentar um plano para garantir que o acidente nunca mais acontecesse. E havia uma recompensa: as únicas pessoas que seriam promovidas eram aquelas que adotavam o sistema.
Os presidentes de unidade eram pessoas ocupadas. Para contatar O’Neill dentro de 24 horas após um acidente, precisavam ficar sabendo do acidente, por intermédio de seus vice-presidentes, assim que ele ocorresse. Por isso os vice-presidentes precisavam estar em contato constante com os supervisores. E os supervisores precisavam fazer com que os funcionários dessem avisos logo que detectassem um problema, e deixassem por perto uma lista de sugestões, para que, quando o vice-presidente pedisse um plano, já houvesse uma caixa de ideias cheia de possibilidades. Para fazer tudo isso acontecer, cada unidade precisava criar um novo sistema de comunicação que facilitasse ao funcionário de cargo mais inferior levar uma ideia ao executivo do mais alto escalão, o mais rápido possível. Quase tudo na rígida hierarquia da empresa precisou mudar para se adequar ao programa de segurança de O’Neill. Ele estava formando novos hábitos corporativos.

Conforme os padrões de segurança da Alcoa mudaram, outros
aspectos da empresa também começaram a se transformar numa
velocidade surpreendente. Regras às quais os sindicatos vinham se opondo havia anos — como medir individualmente a produtividade dos funcionários — de repente foram aceitas, pois tais medições ajudavam todo mundo a descobrir quando parte do processo de fabricação estava desandando, assim representando um risco para a segurança.

Políticas a que os gerentes vinham resistindo havia muito tempo — como dar aos funcionários autonomia para interromper o funcionamento de uma linha de produção quando o ritmo ficava difícil de acompanhar — agora foram bem recebidas, pois esse era o melhor jeito de impedir acidente antes que eles
acontecessem. A empresa mudou tanto que alguns empregados acabaram vendo os hábitos de segurança afetarem outras partes de suas vidas.

“Dois ou três anos atrás, eu estava na minha sala, olhando
pela janela para a ponte da Ninth Street, e tinha uns caras
trabalhando sem usar os procedimentos de segurança corretos”,
disse Jeff Shockey, o atual diretor de segurança da Alcoa. Um deles estava de pé em cima do parapeito da ponte, enquanto o outro segurava o cinto do primeiro. Eles não estavam usando cinturões de segurança nem cordas. “Os dois trabalhavam para alguma empresa que não tem nada a ver com a gente, mas sem pensar naquilo, levantei da cadeira, desci cinco lances de escada, atravessei a ponte e falei para aqueles caras, ei, vocês estão arriscando sua vida, vocês têm que usar seus cinturões e seu equipamento de segurança.” Os homens explicaram que seu supervisor tinha esquecido de trazer o equipamento. 
Então Shockey telefonou para o escritório local da Administração de Segurança e Saúde Ocupacional e denunciou o supervisor.

Segurança do Trabalho: Zero Acidentes
“Outro executivo me contou que, um dia, parou numa escavação numa rua perto da sua casa porque eles não estavam usando EPI's, e deu a todos uma palestra sobre a importância dos procedimentos corretos. Era um fim de semana, e ele parou o carro, com as crianças no banco de trás, para ensinar aos operários sobre escavação segura. Isso não é natural, mas a questão é justamente essa. Agora fazemos essas coisas sem pensar.”
O’Neill nunca prometeu que seu foco na segurança dos funcionários elevaria os lucros da Alcoa. No entanto, conforme suas novas rotinas foram se espalhando por toda a organização, os custos baixaram, a qualidade subiu e a produtividade disparou. Se o metal fundido estava ferindo funcionários quando respingava, então o sistema de derramamento foi redesenhado, o que levou a menos acidentes. Isso também gerou economia, pois a Alcoa perdia menos matéria-prima com respingos. Se uma máquina quebrava constantemente, ela era substituída, o que significava um menor risco de que uma engrenagem quebrada prendesse o braço de um funcionário. Isso também significava produtos de maior qualidade, pois, como a Alcoa descobriu, defeitos de equipamentos eram uma das principais causas de deficiências na qualidade do alumínio.


Pesquisadores também descobriram dinâmicas semelhantes em dezenas de outros cenários, inclusive vidas individuais.

Seis meses depois que Paul O’Neill se tornou diretor executivo da Alcoa, recebeu um telefonema no meio da noite. Um gerente de usina no Arizona estava na linha, em pânico, contando que uma prensa de extrusão tinha parado de funcionar e um dos operários — um jovem que entrara para a empresa umas poucas semanas antes, ansioso pelo emprego porque oferecia plano de saúde para mulher grávida — tentara consertá-la. Ele pulara por cima de uma mureta de segurança amarela que ficava ao redor da prensa e atravessara o poço. Havia um pedaço de alumínio entalado na dobradiça de um braço basculante de quase 2 metros. O rapaz puxou o pedaço de alumínio e o removeu. A máquina foi consertada. Atrás dele, o braço reiniciou seu movimento em arco, oscilando em direção à sua cabeça. Quando o atingiu, o braço esmagou seu crânio. Ele morreu na mesma hora.


Catorze horas depois, O’Neill convocou todos os executivos da usina — assim como os dirigentes da Alcoa em Pittsburgh — para uma reunião de emergência. Durante a maior parte do dia, eles recriaram minuciosamente o acidente, usando diagramas e assistindo às fitas de vídeo inúmeras vezes. Identificaram dezenas de erros que tinham contribuído para a morte, incluindo dois gerentes que tinham visto o homem pular por cima da barreira, mas não o impediram; um programa de treinamento que não enfatizara para o homem que ele não seria culpado por uma quebra de equipamento; falta de instruções de que ele devia procurar um gerente antes de tentar um conserto; e a ausência de sensores que desligassem a máquina automaticamente quando alguém entrasse no poço.
“Nós matamos esse homem”, um O’Neill de rosto soturno disse para o grupo. “É uma falha na minha liderança. Eu causei essa morte. E é falha de todos vocês na cadeia de comando.”
Os executivos no recinto ficaram desconcertados. Um acidente trágico acontecera, é claro, porém acidentes trágicos faziam parte da vida na Alcoa. Era uma empresa enorme com empregados que lidavam com metal incandescente e máquinas perigosas. “Paul viera de fora, e havia muito ceticismo quando ele falava de segurança”, disse Bill O’Rourke, um executivo do alto escalão.


“Achamos que aquilo ia durar umas semanas, e então ele ia começar a focar outra coisa. Mas aquela reunião realmente deixou todo mundo abalado. Ele estava levando aquilo a sério, tão a sério que passava noites acordado, preocupado com um empregado que ele nunca tinha visto. Foi então que as coisas começaram a mudar.”
Uma semana depois daquela reunião, todas as grades de
segurança da Alcoa tinham sido repintadas de amarelo brilhante, e novas políticas tinham sido redigidas. Os gerentes disseram aos empregados que não tivessem receio de sugerir uma manutenção proativa, e as regras foram esclarecidas para que ninguém tentasse consertos arriscados. Essa nova vigilância resultou numa notável diminuição a curto prazo do índice de lesões. A Alcoa viveu uma pequena vitória. Então O’Neill deu o bote.


“Quero parabenizar a todos por reduzir o número de acidentes, mesmo por apenas duas semanas”, ele escreveu num memorando que passou pela empresa inteira. “Não devemos comemorar porque seguimos as regras, nem porque reduzimos um número. Devemos comemorar porque estamos salvando vidas.”
Os operários fizeram cópias do texto e as grudaram em seus armários. Alguém pintou um mural retratando O’Neill numa das paredes de uma usina de fundição, com uma citação do memorando escrita embaixo. Assim como as rotinas de Michael Phelps não tinham nada a ver com natação e tudo a ver com seu sucesso, também os esforços de O’Neill começaram, como uma bola de neve, a gerar mudanças que não estavam relacionadas à segurança, mas eram transformações mesmo assim.
“Eu disse para os operários: ‘Se sua gerência não estiver atenta às questões de segurança, então liguem para minha casa, este é o meu número’”, O’Neill me disse. “Os funcionários começaram a ligar, mas não queriam falar de acidentes. Queriam falar sobre todas essas outras ideias ótimas.”


A usina da Alcoa que fabricava revestimento de alumínio para paredes para casas, por exemplo, vinha lutando para se manter havia anos, porque os executivos tentavam prever cores populares e inevitavelmente apostavam errado. Pagavam milhões de dólares a consultores para escolherem tons de tinta e, seis meses depois, o depósito ficava atulhado de “amarelo-sol”, enquanto o “verdeexército”, que de repente entrara em demanda, estava em falta. Um dia, um empregado de baixo escalão fez uma sugestão que rapidamente chegou aos ouvidos do gerente geral: se eles agrupassem todas as máquinas de tinta, podiam trocar os
pigmentos mais depressa e se tornar mais ágeis para reagir a
mudanças na demanda dos clientes.

Dentro de um ano, os lucros com revestimento de alumínio para paredes tinham dobrado.
As pequenas vitórias que começaram com o foco de O’Neill
na segurança criaram um clima em que todos os tipos de novas
ideias pipocavam.
“Descobrimos que esse cara vinha sugerindo essa ideia da
tinta fazia uma década, mas não tinha contado para ninguém da
gerência”, me disse um executivo da Alcoa. “Então ele pensou, já
que estamos sempre pedindo recomendações de segurança, por que não falar para eles sobre essa outra ideia? Foi como se ele tivesse nos dado os números que iam sair na loteria.”

Assim como os diários forneceram uma estrutura
para que outros hábitos prosperassem, os hábitos de segurança de O’Neill criaram uma atmosfera em que outros comportamentos
surgiram. Logo no começo, O’Neill tomou a providência incomum
de mandar que os escritórios da Alcoa do mundo inteiro se
conectassem numa rede eletrônica. Isso foi no início dos anos 1980, quando as grandes redes internacionais geralmente não estavam ligadas aos computadores nas mesas das pessoas. O’Neill justificou essa ordem argumentando que era essencial criar um sistema de dados de segurança em tempo real que os gerentes pudessem usar para compartilhar sugestões. Como resultado, a Alcoa desenvolveu um dos primeiros sistemas de e-mail corporativo legitimamente mundiais.


O’Neill logava no sistema toda manhã e mandava mensagens
para conferir se todos os outros também estavam logados. No
começo, as pessoas usavam a rede principalmente para discutir
questões de segurança. Então, conforme os hábitos de uso de e-mail tornaram-se mais arraigados e confortáveis, eles começaram a postar informações sobre todo tipo de assunto, tais como
condições de mercados locais, quotas de vendas e problemas
comerciais. Exigiu-se que executivos do alto escalão enviassem um relatório toda sexta-feira, que qualquer pessoa na empresa fosse capaz de ler. Um gerente no Brasil usou a rede para mandar, para um colega em Nova York, dados sobre mudanças no preço do aço.
O colega nova-iorquino pegou essa informação e a transformou
num lucro rápido para a empresa em Wall Street. Em pouco tempo, todo mundo estava usando o sistema para se comunicar sobre tudo.
“Eu mandava meu relatório de acidentes e sabia que todo mundo ia ler, então pensei: por que não mandar dados de preços, ou
informações sobre outras empresas?”, um gerente me disse. “Era
como se tivéssemos descoberto uma arma secreta. A concorrência
não conseguia imaginar como estávamos fazendo aquilo.”
Quando a internet aflorou, a Alcoa estava numa posição
perfeita para se beneficiar dela. O hábito angular de O’Neill — a
segurança dos trabalhadores — havia criado uma plataforma que
incentivou outra prática — o e-mail — anos antes da concorrência.

Em 1996, já fazia quase uma década que Paul O’Neill estava na
Alcoa. Sua liderança tinha sido estudada pela Havard Business
School e pela Kennedy School of Government. Ele era
constantemente mencionado como um possível secretário do
Comércio ou da Defesa. Tanto seus empregados quanto os
sindicatos lhe davam notas altas. Sob a vigilância dele, o preço das ações da Alcoa tinha subido mais de 200%. Ele era, enfim, um
sucesso universalmente reconhecido.


Em maio daquele ano, numa reunião de acionistas no centro de
Pittsburgh, uma freira beneditina levantou-se durante a sessão de
perguntas do público e acusou O’Neill de mentir. A irmã Mary
Margaret representava um grupo de defesa de direitos sociais
preocupado com os salários e as condições de trabalho dentro de
uma usina da Alcoa em Ciudad Acuña, no México. Ela disse que
enquanto O’Neill tecia elogios às medidas de segurança da Alcoa,
trabalhadores no México estavam adoecendo devido a gases
perigosos.
“Isso não é verdade”, O’Neill disse a todos no auditório. Em
seu laptop, ele acessou os registros de segurança da usina mexicana.
“Estão vendo?”, ele disse, mostrando a todos os elevados índices
de segurança, cumprimento de leis ambientais e pesquisas de
satisfação de empregados. O executivo encarregado da usina,
Robert Barton, era um dos gerentes mais antigos da Alcoa. Estava
na empresa havia décadas e era responsável por algumas de suas
maiores parcerias. A freira disse que o público não devia confiar em O’Neill. Ela sentou.
Depois da reunião, O’Neill pediu que ela viesse a sua sala. A
ordem religiosa da freira possuía cinquenta ações da Alcoa, e havia meses que eles vinham solicitando uma votação de acionistas sobre uma resolução que repensasse as operações da empresa no México.


O’Neill perguntou à irmã Mary se ela tinha estado pessoalmente
em alguma das usinas. Ela disse que não. Para se certificar, O’Neill pediu que o diretor de recursos humanos e o conselho geral da empresa fossem ao México para ver o que estava acontecendo. Quando os executivos chegaram, examinaram os relatórios da usina de Acuña e descobriram registros sobre um incidente que nunca tinham sido enviados à sede. Uns poucos meses antes, houvera um acúmulo de emissões de gases dentro de um prédio. Foi uma ocorrência relativamente desimportante. O executivo da usina, Barton, instalara ventiladores para dissipar os gases. As pessoas que haviam adoecido tinham se recuperado completamente dentro de um ou dois dias.


Mas Barton nunca reportara o problema.
Quando os executivos voltaram para Pittsburgh e
apresentaram suas descobertas, O’Neill tinha uma dúvida.
“Bob Barton sabia que as pessoas tinham adoecido?”
“Nós não o encontramos”, eles responderam. “Mas sim, ficou
bem claro que ele sabia.”
Dois dias depois, Barton foi demitido.


Essa saída chocou as pessoas de fora. Barton tinha sido
mencionado em artigos como um dos executivos mais valiosos da
empresa. Sua partida foi um baque para joint ventures importantes. Dentro da Alcoa, no entanto, ninguém ficou surpreso. Aquilo foi visto como uma extensão inevitável da cultura que O’Neill criara. “Foi Barton quem demitiu a si mesmo”, um de seus colegas me disse. “Nesse caso não houve nem escolha.”

Na Alcoa, por exemplo, havia “Programas Essenciais” e “Filosofias
de Segurança”, expressões que serviam como valises, contendo
conversas inteiras sobre prioridades, objetivos e maneiras de
pensar.

“Em outra empresa, talvez tivesse sido difícil demitir alguém
que estava lá havia tanto tempo”, O’Neill me disse. “Não foi difícil
para mim. Era claro o que os nossos valores ditavam. Ele foi
demitido porque não relatou o incidente, e ninguém mais teve a
oportunidade de aprender com ele. Não compartilhar uma
oportunidade de aprender é um pecado capital.”

E na Alcoa, o legado de O’Neill continua vivo. Mesmo na
ausência dele, o índice de acidentes continua diminuindo. Em 2010, 82% das usinas da Alcoa não perderam um único dia de trabalho de um empregado devido a ferimentos, o que é quase um recorde histórico. Em média, há mais chances de um funcionário se ferir numa empresa de software, fazendo desenhos animados para um estúdio de cinema, ou calculando impostos como contador, do que lidando com alumínio fundido na Alcoa.

“Quando fui promovido a gerente de usina”, disse Jeff
Shockey, o executivo da Alcoa, “no primeiro dia em que entrei no
estacionamento, vi todas essas vagas perto das portas da frente,
com nomes de cargos escritos nelas. O chefe disso e daquilo. As
pessoas importantes ficavam com as melhores vagas. A primeira
coisa que fiz foi mandar um gerente de manutenção apagar todos os cargos. Queria que quem chegasse ao trabalho mais cedo pegasse a melhor vaga. Todo mundo entendeu a mensagem: cada pessoa importa. Era uma extensão do que Paul estava fazendo pela segurança dos funcionários. Isso entusiasmou a usina inteira. Em pouco tempo, todos estavam chegando ao trabalho mais cedo”.

Perceba que a mudança acontece com VALORES e POSICIONAMENTO. Tudo é possível, quando decidimos que seja possível. Não é fácil, a mudança é trabalhosa. mas, é necessário querer a mudança. A Borelli Academy trás a vivência com a área de Segurança do Trabalho, temos um sistema de gestão focado na construção ou reforma deste assunto na empresa, para que a Segurança de torne um Valor. Para isso acontecer é necessário um processo. Se você tem interesse em saber fale com a gente: 19 999520646

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